Rousseau e sua fábrica de leitores

No livro, O grande massacre de gatos e outros episódios da história cultural francesa, o autor, Darnton, no capítulo Os leitores respondem a Rousseau: a fabricação da sensibilidade romântica, nos apresenta a atmosfera de transformações no pensamento social em que a Europa passa no período do século XVIII. O foco desse texto é com relação ao Romantismo e suas obras literárias que passam a ser a expressão da nova sociedade. Jean-Jaques Rousseau, na França, tem seu nome atrelado a essa grande transformação no pensamento e a profusão de uma comunicação com os que estavam do outro lado da alta sociedade, os comuns.

Numa época em que não se tem a produção de livros em larga escala como temos nos dias de hoje, há uma grande preocupação com a estética e tipografia empregada em cada livro manualmente construído. Darnton diz "Esta consciência tipográfica desapareceu, agora que os livros são produzidos em massa, para uma audiência maciça" (DARNTON, Robert. 1988, p. 287). Na Idade Moderna, a preocupação com a estética era ligada a status e tinha grande importância para quem lia e para quem produzia, dando atenção a detalhes e características próprias.

Outra grande mudança, muito importante, desse período, é a forma que a educação passa a ser vista. Uma nova forma de ver o professor, a pedagogia e trazer para os comuns esse conceito, hábitos, costumes e valores de uma comunidade. A seguir, neste trecho, o autor nos elucida sobre essas transformações em que Rousseau foi um dos grandes responsáveis:

Como Rousseau, Viard insiste na importância da paciência e da gentileza, por parte do professor. Em vez de serem entulhadas com informações inúteis, as crianças deveriam aprender de acordo com o desenvolvimento natural de suas faculdades... treina a pessoa não para a literatura, mas para a vida. (DARNTON, Robert. 1988, p. 291)

Durante todo o capítulo, Darnton traz os escritos de cartas redigidas a Rousseau e ao editor de seus livros, por leitores, amantes de seus livros. Nelas continham, normalmente, agradecimentos por ensina-los novos conceitos morais e pedagógicos para a construção de uma família exemplar. A inserção do amor nas relações familiares, uma novidade para a época e que penetra sensivelmente na consciência coletiva da nova sociedade. Ele diz:

[...] Mostram como o rousseauísmo penetrou no mundo cotidiano de um burguês nada excepcional e como o ajudou a entender as coisas que mais importavam na existência: amor, casamento, paternidade – os grandes eventos de uma pequena vida e o material de que a vida era feita em toda parte, na França. (DARNTON, Robert. 1988, p. 309)

A literatura de Rousseau dá uma nova forma as famílias, educação e expressão a que os cidadãos estavam acostumados até então. O autor diz:

[...] Mas os leitores comuns de todos os escalões da sociedade perderam a cabeça. Choravam, sufocavam, vociferavam, examinavam em profundidade as suas vidas e decidiam viver melhor depois aliviavam seus corações com mais lágrimas - e em cartas a Rousseau, que colecionava seus testemunhos num imenso maço; e este foi preservado para o exame da posteridade. (DARNTON, Robert. 1988, p. 310)

Este sentimentalismo era impensado até a metade do século XVIII, e, a partir de então, alguns autores alemães, dinamarqueses e franceses, iniciam o movimento que traria a mudança de pensamento que perdura até os hoje nas nossas relações sociais. Tornou-se padrão, cultura e regra moral para uma família moderna e nuclear. Como expressa essas palavras em resposta a leitura de um dos livros de Rousseau: "Sinceramente comprometido com uma jovem esposa, aprendi com o senhor, e ela também, que estamos unidos pelo mais tenro amor – e não, como pensávamos, por uma simples ligação baseada no hábito de vivermos juntos" (DARNTON, Robert. 1988, p. 316). Hábito que até então era comum e totalmente aceitável.

Dessa forma concluo que foi de máxima importância a coragem de homens como Jean-Jaques Rousseau e seus livros que passam a atrair novo leitores e popularizar a leitura e o Movimento Romântico e essencialmente se caracteriza pela expressão dos sentimentos e a preocupação com o ser humano e a forma como ele vive e compreende a vida. Não mais como tecnocratas e objetos da fabricação material, mas como homens e mulheres capazes de sentir e expressar seus sentimentos.

#História #Iluminismo #Rousseau