Medieval - Liberdade e Agressividade
- Bruna dos Santos
- 19 de set. de 2017
- 3 min de leitura

Sobre o livro O processo civilizador. Volume I, de Elias Norbert, 1939, pode fazer uma pequena análise de alguns capítulos...
Em "Mudanças na Agressividade", o autor, Elias, vem tratando sobre o comportamento agressivo inato ao ser humano, não como ele próprio, mas como parte dele. e que essa atitude de agressividade foi "refinada", "civilizada", a partir da Idade Moderna, quando o Cavaleiro deixa de ter a importância que tinha na Idade Média e se junta as cortes e principados dos reinos. Passa-se a ter um "refinamento", que vem abastecido de vergonha e repugnância dos dias de hostilidade do homem. O amor, o romantismo e a elegância passam a dar o tom dessa música social.
A Idade Medieval se caracteriza pela pilhagem, a guerra, caça de homens e animais e isso eram necessidades vitais do homem, e tudo isso, fazia parte do enredo de canções e arte da época. Porque a arte é a representação do que se vive no contexto em que é produzida, já que não se pode falar do que não se conhece ou sabe.
Sobre a guerra na Idade Média, Elias diz: "O guerreiro da Idade Média não só amava a guerra, vivia dela. Passava a juventude preparando-se para isso" (ELIAS, Norbert. 1939, p. 193). Esse trecho expressa bem o pensamento medieval dando ênfase a guerra e a virtude que vinha dela.
Elias diz:
"Os instintos, as emoções, eram liberados de forma mais livre, mais direta, mais aberta, do que mais tarde. Só para nós, para que tudo é mais controlado, moderado, calculado, em que tabus sociais mergulham muito mais fundamente no tecido da vida instintiva como forma de autocontrole, é que esta visível intensidade de religiosidade, beligerância ou crueldade parece contraditório." (ELIAS, Norbert. 1939, p. 198)
Aqui é possível captar a esfera de "liberdade x refinamento" ou "agressividade x civilidade". Baseado na mudança que ocorre no pensamento social e como isso afeta as estruturas, podemos concluir que a Idade Moderna vem arrastando consigo, desde então, a natureza do homem e transformando-a em fantoches do padrão.
Elias diz mais: "[...] tornaram-se mais impessoais e levavam cada vez menos a uma descarga emocional marcada pelo imediatismo e intensidade da fase medieval" (ELIAS, Norbert. 1939, p. 199). Cada vez mais se pensou no indivíduo, menos no coletivo e se fizeram regras sociais que tornaram as antigas um ato de rebeldia, agressividade e exclusão social. Se passou a bloquear esses ímpetos impulsivos e aprendeu-se a controla-los. As pessoas inseridas na regra social, hoje, mantêm costumes civilizados e tem aversão ao grosseiro e agressivo.
Já no capítulo seguinte "Cenas da Vida de um Cavaleiro Medieval", Norbert Elias aprofunda sobre essa questão. Como o homem medieval vivia na sociedade em que a defesa das terras, da honra e títulos eram motivos para uma guerra sangrenta.
O autor detalha as obras de Mittelalterliches Hausbuch, (Livro de Imagens da Idade Média) em que representa através dos desenhos a sociedade medieval e a importância que se dava a cada estrutura, pensamento, relacionamentos.
Fala do nu que não possuía a ideia de perversão, ou da estratificação da sociedade que parecia normal e aceita. O fato de se expressar tão espontaneamente e avesso a sociedade moderna, que gradativamente vai criminalizando esses pequenos atos tão normais e comuns no medieval.
Elias diz que: "No desenho, como se pode ver, a relação erótica entre os sexos é muito mais clara do que na fase posterior, quando ela será apenas sugerida, tanto na vida social como na pintura, de uma maneira que embora compreensível a todos é porém semivelada" e "Todas essas cenas são o retrato de uma sociedade na qual as pessoas davam razão a impulsos e sentimentos de forma incomparavelmente mais fácil, rápida, espontânea e aberta do que hoje, na qual as emoções eram menos controladas e em consequência, menos reguladas e passíveis de oscilar mais violentamente entre extremos" (ELIAS, Norbert. 1939, p. 210).
A partir de então, temos uma grande mudança na sociedade que passa pela influência do Iluminismo, Romantismo, a ciência e todos as revoluções que fazem a Europa se transformar aos poucos, até chegar no cenário atual. De grande importância, o texto vem mostrar que somos capazes de nos adaptar e que a pesar de haver em nós os mesmo guerreiros de épocas atrás, somos capazes de conter os sentidos e sentimentos por uma ordem estabelecida e seguida como padrão social dos nossos dias.
Comments