Eurocentrismo x Americanismo
- Bruna dos Santos
- 8 de jun. de 2017
- 3 min de leitura
A questão do americanismo é habitualmente pouco explorada na nossa educação em que se considera pelo pensamento coletivo impregnado que o modo de vida, a cultura e a política econômica europeia é de fato o melhor exemplo a ser seguido. Dessa forma temos uma educação eurocêntrica ou guiada pelos padrões estadunidenses, retirando social e culturalmente o Brasil da América Latina.
Para desconstruir esse pensamento eurocêntrico é preciso chamar atenção para o que Mirian Jorge Warde diz em seu artigo Americanismo e Educação: um ensaio no espelho:
São deslocamentos ora flagrantes, ora sutis, ora conflituosos, ora pacíficos em que nunca se deixou de fazer referência ao Velho Mundo como fonte de uma cultura na qual os brasileiros deveriam incessantemente se banhar caso quisessem conquistar o status de civilização, mas os Estados Unidos vão se afigurando nos ensaios utópicos das elites intelectuais e no imaginário social como a terra prometida, sem as mazelas da Europa envelhecida e conflituosa [...] a Europa e depois os Estados Unidos cedo constituíram o espelho onde o Brasil tinha de se mirar, e não os ‘pares’ latino americanos” (WARDE, Mirian Jorge. 2000, pág 38)
Isso porque, se tem uma visão pejorativa do sul do nosso continente e de uma história mal contada de insucessos, submissão, sujeição, em que o latino americano é o indígena que se deixou comprar pelas riquezas dos colonizadores e na qual os imigrantes que se instalaram posteriormente no Brasil, não queriam sua imagem vinculada a essa história.
Warde nos diz mais:
Ao Brasil, então, faltava povo, pois que esse se faz com instrução, trabalho e muitas virtudes. Porque faltaram filósofos (...) que nos tivessem dado princípios e educação. Aí está todo o abismo que nos separa. (WARDE, Mirian Jorge. 2000, pág 39)
Por assim dizer, se conclui que é preciso ensinar o verdadeiro valor do nosso povo, e história, com ideais renovados do que é sucesso, bem-sucedido, vitorioso, sem a vergonha de pertencer a América Latina que lutou por sua independência por longos períodos, e que ainda luta, até hoje com a interferência de potencias e imperialismo dos Estados Unidos que manipula a seu bem querer a economia e o uso das riquezas internas dos países latinos. Se complica, certamente, mais ainda, quando a nação não percebe tamanho abismo e menospreza a si mesmo. Por isso a importância da educação, da reflexão e pensamento crítico a esse respeito, e a escola é papel fundamental nesse importante processo.
Uma boa forma de introduzir essa reflexão e discussão em sala de aula é com o uso de filmes, documentários e obviamente, livros. Mas vamos nos deter a um documentário que fala sobre esse tema: 1500 a 1822 – História do Brasil, a Colônia, que trata da expressão “descobrimento” do Brasil e que isso remete a um eurocentrismo já que se desconsidera o fato de que na América, como um todo, havia sociedades indígenas antes da chegada dos europeus, e que não era terra vazia ou de ninguém. Questiona-se nesse documentário o termo utilizado, achando-se melhor a utilização da palavra “chegada”. Também discute o porquê dos portugueses se embrenharem na longa e dura jornada de atravessar o Atlântico para chegar a América.
Ou seja, é possível através deste documentário trazer aos alunos um pouco de reflexão e discutir em sala de aula os termos até hoje utilizados, se estão corretos conforme o que sabemos nos dias de hoje, e se pensar na questão do eurocentrismo e de como ele afeta nossa sociedade com relação ao preconceito que se tem com nossos pares latino americanos e que certamente prejudicam o crescimento, principalmente econômico, da América Latina, tendo em vista que se despreza sua riqueza cultural, natural e social. Em primeiro lugar, com relação a educação, se deve pensar nesse olhar que voltamos para nós mesmos de maneira pejorativa.
Trabalhando esse assunto com os alunos é possível faze-los refletir ou até mudar sua visão a respeito desse assunto, já que está impregnado de forma inconsciente a superioridade das nações europeias e os Estados Unidos.
Concluo que há muito a que se fazer por uma mudança no pensamento coletivo, mas que é possível através do esforço de professores e profissionais da educação, que, mesmo limitados por uma série de burocracias, hoje, se tem mais acesso a informação e dispõe-se de muitos recursos que capacitam o educador a ensinar e passar um pouco do conhecimento necessário para um pensamento crítico e analítico.
BIBLIOGRAFIA:
1500 A 1822 – História do Brasil – A Colônia. 2015. Em https://www.youtube.com/watch?v=Vjnquqt6JN8&t=348s acessado em 8 de junho de 2017.
WARDE, Mirian Jorge. Americanismo e Educação: Um ensaio no espelho. 2000, em http://www.scielo.br/pdf/spp/v14n2/9786.pdf.
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